segunda-feira, 1 de setembro de 2008

angelus

Bento XVI: Para o cristão cruz não é uma opção

Intervenção por ocasião do Ângelus

CIDADE DO VATICANO, domingo, 31 de agosto de 2008 (ZENIT.org).- Publicamos a intervenção pronunciada por Bento XVI este domingo, ao meio-dia, quando presidiu à oração mariana do Ângelus no pátio do palácio apostólico de Castel Gandolfo.



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Queridos irmãos e irmãs:

Também hoje, no Evangelho, aparece em primeiro plano o apóstolo Pedro, ainda que no domingo passado o tenhamos admirado por sua fé franca em Jesus, a quem proclamou Messias e Filho de Deus; desta vez, no episódio sucessivo, mostra uma fé ainda imatura e demasiadamente ligada à «mentalidade deste mundo» (Cf. Romanos 12, 2). De fato, quando Jesus começa a falar abertamente do destino que o espera em Jerusalém, isto é, que terá de sofrer muito e ser assassinado para depois ressuscitar, Pedro protesta, dizendo: «Longe de ti, Senhor! De forma alguma te acontecerá isso!» (Mt 16,22). É evidente que o Mestre e o discípulo seguem duas maneiras opostas de pensar. Pedro, segundo a lógica humana, está convencido de que Deus não permitira nunca a seu Filho terminar sua missão morrendo na cruz. Jesus, pelo contrário, sabe que o Pai, por causa do imenso amor pelos homens, o enviou para dar a vida por eles e que, se isto implica a paixão e a cruz, é justo que aconteça assim. Por outro lado, ele sabe também que a última palavra será a ressurreição. O protesto de Pedro, apesar de ter sido pronunciado com boa fé e por amor sincero ao Mestre, soa a Jesus como uma tentação, um convite a salvar a si mesmo, enquanto que, só se perder sua vida, a receberá nova e eterna por todos nós.

Se para nos salvar o Filho de Deus teve de sofrer e morrer crucificado, isso não é um desígnio cruel do Pai celestial. A causa é a gravidade da enfermidade da qual tinha que nos curar: um mal tão sério e mortal que exige todo seu sangue. De fato, com sua morte e ressurreição, Jesus derrotou o pecado e a morte, restabelecendo o senhorio de Deus. Mas a luta não terminou: o mal existe e resiste em toda geração, também em nossos dias. Por acaso os horrores da guerra, da violência contra os inocentes, da miséria e da injustiça que se abatem contra os fracos, não são a oposição do mal ao Reino de Deus? E como responder a tanta maldade senão com a força desarmada do amor que vence o ódio, da vida que não tem medo da morte? É a mesma força misteriosa que Jesus utilizou, ao custo de ser incompreendido e abandonado por muitos dos seus.

Queridos irmãos e irmãs: para levar a pleno cumprimento a obra de salvação, o Redentor segue associando a si e a sua missão homens e mulheres dispostos a tomar a cruz e a segui-lo. Como aconteceu com Cristo, também para os cristãos carregar a cruz não é opcional, mas uma missão que se tem de abraçar por amor. Em nosso mundo atual, no qual parecem dominar as forças que dividem e destróem, Cristo não deixa de propor a todos seu convite claro: quem quiser ser meu discípulo, negue seu egoísmo e leve comigo a cruz. Invoquemos a ajuda da Virgem santa, que seguiu Jesus pelo caminho da cruz em primeiro lugar e até o fim. Que ela nos ajude a seguir com decisão o Senhor para experimentar já desde agora, apesar da provação, a glória da ressurreição.

[Após rezar o Ângelus, o Papa pronunciou esta mensagem em italiano:]

Nestas últimas semanas, registrou-se um aumento nos casos de imigração irregular da África. Em ocasiões, a travessia do Mediterrâneo ao continente europeu, visto como uma meta de esperança para fugir de situações adversas e freqüentemente insuportáveis, se transforma em tragédia; a que aconteceu há alguns dias parece ter superado as precedentes pelo elevado número de vítimas. A migração é um fenômeno presente desde o alvorecer da história da humanidade, que desde sempre caracterizou as relações entre os povos e nações. Pois bem, o fato de que em nossos dias se tenha convertido em uma emergência nos interpela e, exigindo nossa solidariedade, impõe ao mesmo tempo respostas políticas eficazes.

Sei que muitas instituições regionais, nacionais e internacionais estão se ocupando da questão da imigração irregular: aplaudo-as e alento-as para que continuem realizando seu meritório labor com senso de responsabilidade e espírito humanitário. Senso de responsabilidade também devem mostrar os países de origem, não só porque se trata de seus cidadãos, mas também para eliminar as causa da emigração irregular, assim como para eliminar, em sua raiz, todas as formas de criminalidade ligadas.

Por sua vez, os países europeus e os que são meta de imigração são chamados, entre outras coisas, a desenvolver em comum acordo iniciativas e estruturas cada vez mais adequadas às necessidades dos imigrantes irregulares.

Estes últimos, além disso, devem ser sensibilizados no valor da própria vida, que representa um bem único, sempre precioso, que se deve tutelar ante os graves riscos aos quais se expõem ao buscar melhorar suas condições de vida, e no dever de legalidade que é uma obrigação para todos.

Como pai comum, sinto o profundo dever de chamar a atenção de todos sobre este problema e de pedir a generosa colaboração de pessoas e instituições para enfrentá-lo e encontrar caminhos de solução. Que o Senhor nos acompanhe e faça fecundos nossos esforços!

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